segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Do primeiro encontro ao coito.

E eis que neste dia a vida revelou minha missão. Envolvido ate o pescoço nos entregamos ao enlace das pernas num momento único onde nunca me sentiria tão mulher na minha vida, eu estava sendo tomada pelo braços desejosos daquela que viria a ser meu “marido”.
Era uma nas noite de ensaio do Macbeth, na UNIRIO, estávamos preparando aquela noite pois seria através das improvisações que escolheríamos as personagens. Eu faria de tudo para conquistar o papel da Lady Macbeth, adoraria fazer esse papel e já me imaginava andando por todos os lados como tal. No entanto o medo de não sei o quê da diretora me vetava sempre dessa possibilidade, mas de uma coisa tinha certeza, de que seria eu a chefe maior das famosas bruxas dessa peça temida por muitos na história do teatro.
Como vocês podem perceber pela minha escrita, não consegui o papel da Lady, mas o laboratório da noite que comecei a descrever indicou as futuras direções do que aconteceria tanto na montagem, como na minha vida. No meio de toda aquela improvisação me vejo tomado pela minha força mais que sincera e absoluta, saltando aos olhos de todos, Sheyla surge trajando um vestido vermelho e trazendo consigo um guarda-chuva aberto. Ela se equilibrava na barra de balé clássico da Sala Branca, cantarolando qualquer coisa que nem ela saberia traduzir, mas causando uma catarse que silenciava todos na sala.
Este laboratório tinha por proposta criar uma maior ligação entre toda a equipe da montagem, para tanto teríamos um ritual selando o nosso pacto regado a vinhos e guloseimas. Contudo o banquete maior e revelador aconteceu no momento e que a diva da noite entregou seu corpo aos reles mortais dispostos a tudo dentro daquela sala. Ao permitir que cada um tocasse seu corpo, suas vestes e seus cabelos, Sheyla derrama o desejo sobre cada cabeça, fazendo com que as pessoas deixassem escapar suas vontades ocultas. Ela já sabia que o papel de Lady não seria seu e assim partiu para uma ofensiva que revelava o caráter de cada um, sem meias verdades.
Sheyla ganha o título de oráculo da equipe e sempre que necessário colocaria sua verdade ante a tudo e todos, foi assim que ela conseguiu o carinho e o respeito de todos, inclusive da magnifica reitora. Mulher-bicho-homem, um ser híbrido capaz de se tornar anjo e demônio ao mesmo tempo. Mas, aquela noite seria reveladora inclusive para Sheyla.
No meio de tantos braços que enlaçavam e agarravam seu corpo, se esquivando de tantos beijos dados, roubados e negados, Sheyla foi tomada por uma volúpia que a levaria ao trono mais elevado daquela noite – parfait melánge. Havia naquela sala outro ser, talvez não tão híbrido quanto ela, mas com uma integridade e potencial avassaladores tal qual nossa diva. Não houve tempo para conversas ou galanteios, os seres precisavam tocar um ao outro, e esse toco deveria acontecer de forma absoluta. Então, diante de todos ali presentes, o real banquete foi posto a mesa, Sheyla se entregou da forma mais sagrada e sincera, em busca do espasmo mais arrepiado, gélido, tremulo e frenético que encontraria na sua vida: o sublime gozo dos mortais.
Daí em diante, Sheyla se fez mulher e ao sê-la nunca foi tão homem. Agora ela entrava numa nova vida, ou melhor numa vida de verdade. O sexo foi como o sopro divino que no mito de Adão e Eva traz vida ao homem, aqui o gozo absoluto encheu os pulmões dela de canto, de vida, de mais gozo sem fim, capaz de curar as feridas, salvar os arrependidos e a cima de tudo amar.

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